Lua

Em 2003, Lua deixou Brasília, sua cidade natal, após intenso envolvimento com a cena musical da cidade, cantando em bandas locais e também como backing vocals de outros artistas. Foi em Florianópolis que Lua começou de forma totalmente despretensiosa sua carreira como cantora, se apresentando em bares e casas noturnas da cidade, muitas vezes acompanhada apenas de seu violão. Mas foi em 2005, sob o suporte de sua empresária Biba Berjeaut (ôLôko Records) que Lua seguiu para Salvador onde foi concebido seu homônimo disco de estréia. Com ênfase nos grandiosos arranjos vocais - quase todos executados pela própria Lua - e na percussão marcante e expressiva, o disco segue uma linhagem diferenciada dentro do que hoje em dia é chamado de MPB. Pensando numa concepção autêntica para um trabalho de intérprete, o renomado produtor Alê Siqueira (Marisa Monte, Tom Zé, Tribalistas, Elza Soares entre outros) procurou convidar instrumentistas que tinham envolvimento direto com os compositores das músicas selecionadas para o repertório do disco, criando assim uma unidade que extrapolava a simples coerência entre sonoridade das canções. O resultado é surpreendente e cativante, como a própria Lua; uma mistura de sotaques, de Porto Alegre ao Acre. Em "Maracatu de tiro certeiro" de Chico Science e Jorge du Peixe, a rima de B Negão somada a programação de Rica Amabis e Tejo (ambos do conceituado coletivo Instituto) dão total legitimidade rítmica para a potente voz de Lua impor seu estilo de forma marcante e diferenciada. Já em "Seres Tupy" de Pedro Luis, Lua divide os vocais com pernambucano Lenine, que por sua vez cede espaço para que seus parceiros Junior Tostoi e Ramiro Mussoto - respectivamente, guitarra e percussão - criem uma atmosfera densa e árida, ao mesmo tempo sólida e pesada. Os luxuosos arranjos de Lincoln Ollivetti e Jaques Morelembaum se fundem a batidas, samples e vocoders numa harmonia nunca vista na música brasileira, e Lua aproveita para fugir do convencional e exercitar sua versatilidade, indo do canto suave de "Jogo Bom" e "Tô na Sua" a agressividade de "Obrigado" e "Piercing". A propósito, a lista de músicos convidados ainda segue com Edgard Scandurra, Marcos Suzano, Funk Como Le Gusta, Luiz Brasil e muitos outros nomes de peso; e como se já não bastasse, a mixagem do disco ficou a cargo do mega produtor norte americano Bob Power (nome comum entre a lista de indicações ao Grammy Awards), que já trabalhou com Erykah Badu, D’Angelo, Macy Gray, A Tribe Called Quest, De La Soul, Me’shell N’degenOcello, the Roots, Common entre muitos outros artistas consagrados. O trabalho é totalmente independente, tanto em conceito e desenvolvimento quanto na finalização e distribuição. Isso faz do disco uma obra ímpar no Brasil. Mais um bom motivo para ouvir o álbum de estréia da cantora Lua.
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