Orquestra Contemporânea de Olinda

Orquestra Contemporânea de Olinda: ouça sem moderação

Tá falado: a mais recente prova de vitalidade na música pernambucana é o álbum de estréia da Orquestra Contemporânea de Olinda. Com inovadores arranjos de metais, cordas e percussão, cada faixa é de uma riqueza cada vez mais rara na atual música popular brasileira. Provavelmente porque esse laboratório rítmico, melódico e harmônico idealizado pelo percussionista Gilú nos idos de 2006, e sediado nas ladeiras do Sítio Histórico de Olinda, experimenta livremente novos caminhos pelo universo pop.
O uso de instrumentos pouco usuais na música pop é um dos vários atrativos do álbum - a arte da capa, elaborada pelo artista plástico olindense Paulinho do Amparo, reforça a peculiaridade instrumental do grupo. Como na introdução da música Canto da Sereia, interpretada por uma tuba, instrumento praticamente em extinção na música popular por falta de músicos que o saibam tocar.
Entre grooves latinos, afro beats e ritmos pernambucanos, a Orquestra Contemporânea de Olinda construiu identidade própria, concisa, bem definida. Mérito compartilhado por um elenco de doze músicos com diferentes origens: Gilú (percussão), Tiné (voz), Maciel Salú (rabeca e voz), Juliano Holanda (viola e guitarra), Hugo Gila (baixo e teclado), Raphael Beltrão (bateria), Ivan do Espírito Santo (flauta, sax alto e barítono), Lúcio Henrique (sax alto), Luiz Antônio (trompete), José Abimael (trombone), Adriano Ferreira (trombone) e Alex Santana (tuba).
A primeira metade responde pela base criativa, e já vinha afinada de trabalhos anteriores: Gilú, Tiné e Hugo Gila, da sociedade musical e boêmia Academia da Berlinda; Tiné e Maciel Salú, do projeto Terno do Terreiro; Raphael, que tocou com Gilú no Bonsucesso Samba Clube, há pelo menos 10 anos vêm tocando com o parceiro Hugo Gila em vários projetos. A outra metade vem do Grêmio Musical Henrique Dias, a pioneira escola profissionalizante de músicos da cidade (fundada em 30 de abril de 1954). Apesar da tradição, há tempos que o grêmio não recebia a devida atenção. “Vi a necessidade de inserir esses músicos no mercado de trabalho. Como eles não tocavam com ninguém, veio a idéia da orquestra”, diz Gilú.
Daí por diante, foi questão de poucos meses para a “big band” olindense se tornar conhecida do público e recomendada pela crítica. Entre shows no Abril Pro Rock, Rec Beat, Marco Zero e Festival de Garanhuns, começaram os ensaios que geraram o disquinho agora em suas mãos. Gravado no Fábrica Estúdios entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008 – com recursos do Fundo de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco – o CD será distribuído nacionalmente pelo Som Livre Apresenta, selo da gravadora dedicado a mapear a recente produção musical brasileira. Os arranjos de metais são do experiente maestro Ivan do Espírito Santo, há sete anos à frente do GMHD, exceto em Tá falado e Joga do Peito, que ganharam tratamento especial do maestro Ademir Araújo, regente da Orquestra Popular do Recife.
A audição das onze faixas fala por si. De cara, a música Tá Falado expõe a necessidade de expressão: “Mas pra te falar do que eu sei, é preciso canção”. Ladeira, inspirada na história de um amigo que foi morar em Madri, versa sobre se jogar na vida, mesmo que enfrentando solidão e saudade. Durante o carnaval e Saúde são canções inéditas que Tiné já trazia de muito tempo, e que aqui ganharam arranjo coletivo. Joga do Peito, em que Tiné demonstra domínio não só como letrista, mas na técnica vocal, ao posicionar a voz no contraponto instrumental. Na seqüência, Brigitti, a luminosa voz da convidada especial Isaar de França seduz e “tira onda” numa sedutora conversa, em que a guitarra de Juliano Hollanda faz a “voz” masculina. Balcão da Venda, parceria entre Juliano e Salú, conduz ao cotidiano de uma mulher independente, que trabalha durante o dia para, à noite, beber ”umas”. A letra não diz, mas dificilmente haverá ressaca no dia seguinte. Sinal de que o destilado dessa orquestra é recomendado para consumo. De preferência, sem moderação.


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1 comentários:

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Harley
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08/04/2009, 22:41 delete

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16 abr 2009 CAIXA CULTURAL - BRASILIA
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18 abr 2009 STUDIO SP - RUA AUGUSTA
22 abr 2009 OPINIÃO - PORTO ALEGRE
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